[30 de Junho de 2018, Sábado de madrugada (quase 3h da manhã)]
Compartilho com vocês, Manuelinos, com a devida autorização da autora, carta que me foi enviada por Dirce Vieira Machado de Oliveira, mulher do Otoniel Marinho de Oliveira, apelidado de “Tonhé”, meu colega de classe no Curso Clássico, de 1961 a 1963, no JMC. A Dirce é também irmã de Dioraci Vieira Machado, meu grande amigo, presbítero da Catedral Evangélica de São Paulo, e de um ex-manuelino, Domingos Vieria Machado, apelidado “Branco”.
Pedi permissão à Dirce para digitalizar e compartilhar a carta com os colegas do JMC porque acho que ela reflete de forma muito feliz a “Essência do JMC”. A Dirce nunca foi manuelina, no sentido estrito: nunca estudou ou viveu lá. Mas é mulher de um manuelino e irmã de outro. E relata aqui o que esses dois manuelinos, o Tonhé e o Branco, lhe disseram e lhe mostraram acerca da nossa escola querida.
O conhecimento que a Dirce revela acerca do JMC é baseado em exemplo de vida e testemunho. E podemos continuar a viver desse jeito e a dar esse testemunho, mesmo na ausência física de nossa escola, que foi fechada em 1970.
Aqui vai a carta, originalmente manuscrita em três folhas, com o meu agradecimento à Dirce, por ter escrito a carta e por ter autorizado a sua digitalização e divulgação. O estilo dela é, por vezes, desnecessariamente formal. Ela me chama, por exemplo, de “Senhor Eduardo Chaves”…). A pedido da Dirce, agi como um editor aqui e ali.
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“Senhor Eduardo Chaves:
Não fui aluna do JMC, mas, se olharmos para o Currículo do “1º Ciclo do Seminário Menor” do Instituto José Manuel da Conceição, constatamos que, no que diz respeito ao Currículo, além das disciplinas comuns entre essa escola e os ginásios que nós, de fora, cursávamos, disciplinas como Português, Matemática, Ciências, História do Brasil e Geral, Geografia Geral e do Brasil, Inglês, Francês, Latim, Desenho, etc., havia também Música, Bíblia e Canto Orfeônico. Se olharmos à Avaliação, no JMC os alunos eram avaliados em todas essas disciplinas, comuns com outras escolas ou não, mas sua avaliação era mais abrangente, incluindo as muitas experiências enriquecedoras que eles vivenciavam na organização de caravanas e na participação nelas, em visitas a igrejas, no envolvimento em grêmios estudantis, na ministração de palestras, no engajamento em encontros, bem como em atividades internas, como a limpeza do quarto, a ajuda na cozinha e no refeitório, na gestão de materiais e serviços, em campeonatos esportivos, e outros.
A escola era voltada para preparar aqueles que pretendiam viver sua vida acadêmica em Estudos Superiores de Teologia, como já registrava o Certificado de Habilitação no 1º Ciclo. Mas ela preparava também para o trabalho em outras áreas essenciais da Igreja, como a Música: canto, coral, instrumentos (piano e órgão), etc.
Havia também no JMC a vivência do amor, da confiança, e do respeito, pois os alunos conviviam diariamente com os professores, dentro e fora da sala de aula (os professores moravam no campus), pessoas que viviam e modelavam a sua fé e os seus ideais, e, através de relacionamentos humanos saudáveis, louvavam a Deus – e isto não somente no culto matinal, em que todos cantavam com muito entusiasmo, sendo motivados a viver uma vida com propósito e com sentido, mas também no dia-a-dia, pois a escola era de tempo integral, na verdade um internato, em que tudo o que se fazia, o dia inteiro, era considerado como parte relevante da educação de cada um.
Vim a saber, também, que nessa escola havia três Grêmios Estudantis: o Grêmio Castro Alves, dedicado a elevar a vida cultural dos alunos; o Grêmio Miguel Torres, que cuidava do aspecto espiritual da vida dos alunos; e o Grêmio Esportivo, que cuidava da saúde do seu corpo e da aprendizagem de formas de competir leais e respeitosas. Esse terceiro grêmio patrocinava a prática de futebol de campo, futebol de salão, basquete e vôlei.
Nos Ginásios que frequentávamos, longe do JMC, havia apenas um Grêmio Estudantil, sem grande sentido, pois sua única tarefa era produzir as Carteirinhas Estudantis para que pagássemos meia-entrada nos cinemas da cidade…
No JMC cada aluno era responsável pela limpeza de seu quarto e de sua roupa, que era lavada, passada, e, não raro, engomada. Eram responsáveis também pela manutenção dos espaços comuns.
Os alunos participavam ainda da aplicação das provas. Em dia de provas, um dos alunos assumia a responsabilidade de buscar a prova na Secretaria e distribuí-la para os colegas, e cada um podia fazer a prova na própria sala ou, em alguns casos, em seu próprio quarto – fato que reforçava seu comprometimento com a honestidade e a responsabilidade.
Os alunos tinham também um Conselho dos Alunos, que tinha a atribuição de fazer a primeira análise de problemas de comportamento e conduta dos colegas, como indisciplina, antes de o caso ser encaminhado à Congregação dos Professores. O Conselho dos Alunos também analisava necessidades especiais de alunos, caso a caso.
O ambiente físico da escola era muito simples e frugal, e a maioria dos alunos era muito carente. Alguns eram mais velhos, fazendo o Ginásio já com mais de 18 anos. Mas todos sabiam por que estavam ali e tinham sede de aprender e saber. Tudo era muito humilde – mas se vivia ali como em uma família, que podia ser financeiramente pobre mas era rica em afeto e solidariedade.
No JMC o jovem tinha oportunidade de examinar sua vida, definir o seu futuro, crescer em conhecimento e responsabilidade, ao vivenciar os valores que a instituição apregoava e vivenciava.
De fato, a escola era viva – e uma parte essencial da vida de cada um!
Dirce Vieira Machado de Oliveira
Casada há 50 anos com um manuelino, Otoniel Marinho de Oliveira, e irmã há mais tempo de outro, Domingos “Branco” Vieira Machado.
Fernandópolis, 24 de Junho de 2018″.
Transcrição aqui neste Blog em São Paulo, 30 de Junho de 2018