[Artigo de Eduardo Chaves, publicado em O Estandarte, órgão oficial da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, de Fevereiro de 2018, em comemoração aos 90 Anos da fundação do Instituto José Manuel da Conceição.]
Em 8/2/2018 comemoraremos 90 anos da fundação do Instituto “José Manuel da Conceição” (JMC) – escola-internato de educação básica fundada em 1928 por William A. Waddell em Jandira, SP. Enquanto instituição, o “Jota”, como era chamado, durou 42 anos: morreu cedo, em 1970. Há gente, ainda viva, que sabe bem qual foi, exatamente, sua causa mortis, mas faz questão de não compartilhar – imagino que por vergonha (ainda que vergonha alheia) ou para evitar constrangimentos, a vivos e a mortos.
Mas não é dessa história triste que pretendo falar aqui.
Quero, primeiro, constatar um fato sobre o qual nada podemos fazer. Quem entrou com treze anos no JMC em 1970, último ano de sua vida como escola, nasceu ao redor de 1957, e tem, hoje (começo de 2018), cerca de sessenta anos. Mais quatro décadas e provavelmente não haverá mais ninguém vivo que tenha estudado ou trabalhado no Jota que possa celebrar seu aniversário.
Quero, no entanto, falar sobre algo mais alegre e promissor.
Organizações, como seres humanos, têm corpo e têm alma. O que mataram do JMC foi apenas o seu corpo. E Jesus, um dia, sabiamente nos advertiu (Mt 10:28): “Não temais os que podem matar o corpo mas não podem matar a alma”. . .
Os que mataram o corpo do JMC não conseguiram, até aqui, matar a sua alma. Até tentaram. Por isso celebraremos em 2018 os 90 anos de sua fundação. A alma do JMC continuou a viver depois da morte de seu corpo – e vive até hoje, quase cinquenta anos depois do assassinato de seu corpo. Prova disso é que nos dias 22 a 24/09/2017 cerca de setenta “manuelinos” se reuniram em Campinas, SP, para honrar e celebrar a alma daquela instituição notável. A alma do JMC continua a viver, não só na memória daqueles que um dia estudaram ou trabalharam lá, mas, também, na memória daqueles que, tendo apenas ouvido a sua história, resolveram adota-la como sua, tornando-se “manuelinos de coração”.
Organizações, como o JMC, podem continuar a ter vida depois da morte de seu corpo, através da memória que deixaram – memória que pode representar a renovação da esperança! As nossas celebrações são como a Eucaristia: “Fazei isso em memória de mim!”
O JMC um dia teve um corpo, que hoje está morto: deixou de ter vida. Mas a alma do JMC é outra coisa. Ela consiste daquilo que vivenciamos em Jandira: os conhecimentos que construímos; as competências que desenvolvemos; os valores que herdamos, adotamos ou criamos; as músicas que aprendemos, compusemos e cantamos; as vozes que aperfeiçoamos; os instrumentos musicais que dominamos; os esportes nos quais pelejamos e pelos quais demos nosso sangue; os relacionamentos que mantivemos; as amizades que formamos; os amores que em nós nasceram; as desilusões que sofremos; as atitudes e posturas que incorporamos; os hábitos que se tornaram nossa segunda natureza, fazendo de nós o que somos hoje… Essa é a alma do JMC! E ela continua viva naqueles que estudaram ou trabalharam lá. Essas coisas todas se incorporaram em nós, encarnaram-se em nossa vida, passaram a ser parte de nós, adotaram o nosso corpo como sua casa – quiçá como seu templo, enquanto esse templo durar…
Mas um dia o corpo de todos nós que estudamos ou trabalhamos no JMC estará morto também. A boa notícia (boa nova, evangelho!) é que a alma do JMC não precisa morrer com o corpo dos que estudaram e trabalharam lá: e ela não morrerá SE mantivermos viva a história do JMC e SE preservarmos acesa a chama de sua memória… “Ide por todo o mundo e proclamai . . .”
Para que isso aconteça precisamos “evangelizar” as novas gerações, transmitir para elas as boas novas que um dia vivenciamos: na dimensão vertical, para os nossos filhos, netos, bisnetos, sobrinhos; em dimensões horizontais e transversais, para os nossos amigos, os filhos, netos, bisnetos e sobrinhos deles…
Minha esperança foi literalmente renovada no encontro de Campinas ao lá ver crianças – várias delas, correndo, brincando, curtindo umas as outras, como a gente um dia se curtiu no Jota! Segundo narraram seus pais, algumas dessas crianças já participaram de vários desses encontros e anseiam por eles como o importante momento em que vão encontrar seus amigos dos encontros anteriores, crianças como elas, manuelinos como elas, que, entretanto, nunca colocaram o pé em Jandira (como boa parte de nós nunca colocou o pé na Palestina…), mas que se orgulham de manter viva a história e acesa a chama da memória do JMC. . .
Neste ano de 2018, também em Setembro, nos dias 21 a 23, haverá outro encontro, em lugar a ser anunciado (**). Você que me lê, pode se tornar um manuelino . . . Este é literalmente um apelo! Não deixe de visitar o site do JMC (https://jmc.org.br) ou a página do JMC no Facebook (https://www.facebook.com/institutojmc/) para saber os detalhes do próximo encontro e para deixar o seu endereço para receber comunicados… Ou para bater papo com os manuelinos em vários grupos de discussão no Facebook, lá indicados, vindo a fazer parte da família manuelina!
O dito de Jesus deixa claro que os que matam o corpo em regra não são capazes de matar a alma… mas ele não diz que a alma não pode morrer. Ela pode morrer, sim. Na verdade, SE a gente não tomar alguma providência, a alma do JMC morrerá conosco – com a morte do nosso corpo. Mas a morte da alma não é um “imperativo categórico”, inevitável, como a morte do corpo: ela pode sobreviver à nossa morte, mas para que isso aconteça, não podemos ficar parados…
Deus não faz por nós aquilo que podemos – e devemos – fazer.
Eduardo CHAVES (**)
Escrito em Cortland, OH, EUA, 1º de Janeiro de 2018, e publicado aqui em 4 de Março de 2018.
(*) Já é possível confirmar o local do encontro de 2018: será em Campinas, SP, no mesmo hotel em que o realizamos no ano passado (2017). E a data, repetindo, é de 21 a 23 de Setembro, sexta-feira a domingo. RESERVEM A DATA. (5 de Março de 2018. Confirmação do local obtida de Jairo Brasil, que ficou encarregado dessa missão).
(**) Eduardo Chaves é manuelino de segunda geração: ele estudou no Instituto JMC de 1961 a 1963 (três anos), mas seu pai, Rev. Oscar Chaves, também estudou lá, de 1934 a 1938 (cinco anos). De 1974 a 2006 Eduardo Chaves foi Professor de Filosofia da Educação na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), de 2007 a 2013 foi Professor de Educação, Mudança e Inovação no Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), no campus de Americana, e de 2014 a 2017 foi Professor de História da Igreja na Faculdade de Teologia de São Paulo da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (FATIPI). Ele pode ser contatado através do e-mail ec@jmc.org.br.